Toca o despertador.
Toca o despertador.
O despertador toca.
Penso.
Decido: Ação.
...
Vamos! Ação!
Basta eu me virar e alcançar o botão do rádio-relógio.
É só isso o que eu preciso fazer.
O despertador continua.
Monstro tetraplégico que não para.
A força do meu pensamento não é capaz de fazê-lo parar.
Então, vamos! Basta eu me virar e alcançar o botão.
Depois disso, posso ficar na cama por mais nove minutos - até ele tocar novamente.
Nove minutos para eu descansar da noite mal dormida e recuperar minhas energias.
Sim, todos os músculos do meu corpo estão completamente relaxados. Estou bem. Estou em paz...
Toca o despertador.
Toca o despertador.
O despertador toca.
Aperto o botão. Olho para o teto e enxergo o cronograma do dia.
As paredes da minha alma (onde será que eu li isso?) estão cheias de mofo. Cheias de bolor, cansaço e tédio.
Escrava da piedade, prisioneira das minhas escolhas, não sei fugir.
Vou me levantar. Gostaria de ficar, mas o dia me chama e eu preciso me livrar dele.
Atravessarei as horas com a resignação que me resta.
O que me alenta é saber que poderei voltar logo mais para o momento de me deitar
e ver qualquer coisa na tv, mesmo que por breves instantes,
pois meus olhos pesados me conduzem ao lugar onde não há peso, onde não há compromissos, a palavra empenhada.
A liberdade está no sonho.
Vou me levantar.
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